Empresas sem ações sustentáveis concretas correm risco de perder metade dos investidores

Empresas sem ações sustentáveis concretas correm risco de perder metade dos investidores

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O dado é de um estudo da consultoria e auditoria PwC, que aponta que, agora, atitudes ESG (sigla em inglês para a agenda ambiental, social e de governança) são decisivas para os principais investidores do mundo

Que as pessoas andam cada vez mais interessadas em investimentos sustentáveis, ou ESG (sigla em inglês para a agenda ambiental, social e de governança), você já está careca de saber. Mas, agora, atitudes de sustentabilidade das companhias com ações em bolsa são decisivas para os principais investidores do mundo, conforme um estudo da consultoria e auditoria PwC, divulgado em primeira mão para o Valor Investe.

O levantamento captou as avaliações de 325 gestores de ativos e analistas de bancos, corretoras e empresas de investimentos globais. Quase metade, 49%, afirma que está disposta a vender os papéis das empresas que não demonstrarem ações concretas com foco em ESGA maioria, 79%, diz que os riscos de sustentabilidade são um fator importante na tomada de decisão de investimento.

“Para os investidores, o que começou como uma forma de medir o desempenho ambiental, social e de governança de uma empresa para fins de mensuração de risco, agora é uma grande força motriz da estratégia de investimento”, afirma a consultoria, em relatório.

A maioria, 75%, dos gestores e analistas pesquisados afirma que acha que vale a pena as companhias sacrificarem a lucratividade de curto prazo para lidar com questões ESG. “Essas descobertas devem dar algum conforto às empresas que podem temer que os investidores critiquem as reduções no lucro por ação”, diz a PwC.

Por outro lado, um percentual parecido, 81%, afirma que só estaria disposto a aceitar um corte de um ponto percentual ou menos no retorno do investimento. Quase metade, 49%, não está disposto a aceitar qualquer redução em troca.

Essas descobertas não são surpreendentes, conforme a consultoria. “Os investidores operam em mercados competitivos, onde o capital persegue retornos e os de baixo desempenho são eliminados”, diz a PwC. Um dos analistas entrevistados observou que os gestores têm um dever com os cotistas e não podem priorizar questões sociais sobre o retorno dos investimentos.

Mesmo assim, os investidores entrevistados esperam que a sustentabilidade seja uma parte central da estratégia das companhias: 68% acham que as medidas e metas de desempenho ESG devem ser incluídas nos acordos de remuneração dos executivos e 66% acreditam que as empresas que estão no topo dos rankings de sustentabilidade são aquelas em que alguém da diretoria é o responsável pela agenda.

A diminuição das emissões de gases de efeito estufa é a questão mais citada (69%) que os gestores e analistas pesquisados acham que as companhias deveriam priorizar, seguida pela garantia da saúde e segurança dos trabalhadores (44%) e pela melhora da diversidade, equidade e inclusão dos executivos (37%).

Investidores querem relatórios de sustentabilidade mais confiáveis

O estudo ainda aponta uma série de deficiências nos relatórios de sustentabilidade atuais das companhias. Apenas 33% dos investidores entrevistados acha que a qualidade dos relatórios é boa o suficiente. Eles carecem de informações comparáveis, completas e relevantes, de acordo com os gestores e analistas. Assim, é difícil diferenciar o desempenho das empresas ligado a ESG – tornando as decisões de alocação de capital difíceis.

Na ausência de ações reais e de uma comunicação mais transparente, os gestores e analistas pesquisados afirmam que estão dispostos a agir, se necessário: 77% se mostram abertos a buscar dialogar com as companhias, 59%, a votar contra os acordos de pagamento de executivos e 58%, a buscar incluir metas de sustentabilidade na remuneração dos executivos.

Empresas brasileiras também correm riscos de perder investidores

O estudo da consultoria não tem um recorte de Brasil, mas Kieran Mcmanus, sócio da PwC Brasil, afirma que as companhias da bolsa brasileira sem ações sustentáveis concretas também correm o risco de perder investidores.

“Tenho certeza que empresas brasileiras têm riscos de perder investidores, até porque muitas têm vínculo com o exterior. Esse movimento ESG está vindo de todas as formas e lugares diferentes. Está muito claro que há uma cobrança muito grande”, diz.

Contudo, Mcmanus ressalta que as companhias gostam de contar que estão fazendo algo, mas que a ausência de ações concretas e de uma comunicação mais transparente nos relatórios também ainda é um problema no Brasil. “Falta consistência nas informações hoje. Sem medições, não conseguimos controlar as iniciativas. Os compromissos devem estar refletidos nos balanços”, afirma. “Acho que tem muito mais a ser feito, especialmente no Brasil“.

Ainda segundo o sócio da consultoria, iniciativas de sustentabilidade são de longo prazo. Ou seja, esse não é assunto de interesse dos ‘day traders’, como são chamados os investidores que compram e vendem ativos no mesmo dia. Assim, à medida que os brasileiros entenderem que ações são investimento de longo prazo, também compreenderão mais a importância dos investimentos ESG, na visão dele.

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